domingo, 17 de junho de 2012

O Fantasma





"Eu repeti a rotina e percorri meu território mais uma vez, procurando saber até onde meus limites me levariam. Quando me deslocava, tudo ficava tomado de uma névoa densa onde nenhuma luz natural penetrava. Cada experiência marcava sulcos na superfície do meu ectoplasma, como um graveto na lama. 

O tempo me escapava pelos dedos nodosos como vento, fugindo e dobrando esquinas no horizonte vaporoso. Dias seriam anos ou mesmo séculos para minha mente etérea, que já não compreendia sensações terrenas. 

O que me restava era a natureza ao meu redor, onde me refugiei dos meus semelhantes. Hoje e sempre, vago sem objetivo determinado, fluo pelas rochas, pelas árvores, vendo meus pés finos levantarem uma suave névoa úmida entre a vegetação rasteira.

Não mais sentia frio, quando explorava cavernas guardiãs de todas as sombras do mundo ou deitava meu corpo transparente no leito do rio, para observar os peixes me atravessarem. 

Em um carvalho esquecido e frondoso no centro da floresta eu vislumbrei uma esperança de paz.  Entrei e relaxei todas as fibras do meu ser e deixei que a madeira me disciplinasse. Enraizei-me, estabeleci uma base segura, me tornei uma coisa só junto com a árvore. Me permiti dormir pela primeira vez em muitas eras e sonhei com luzes e cores."

5 comentários:

Anônimo disse...

Sou um grande fã, não só de Guilherme Briggs, mas de todos aqueles que, através apenas da voz, conseguem fazer real aquilo que só existe em nossa imaginação. Grande texto e narração show de bola!

Anônimo disse...

que profundo,to sem palavras pra descrever o que senti com essa historia quase de terror eu diria um suspense ,aproveitando sou seu fã guilherme vi varias entrevista suas eu queria ser dublador um dia,só que queria saber que faculdade fazer para tira o drt que minha professora de teatro comentou ,obrigado e boa tarde

Andarilho do Deserto disse...

Ficou legal Briggs

Unknown disse...

Puxa vida Briggs, na boa cara, fiquei arrepiado com o texto. Que momento meditação profunda deve ter sido.
Abraço!

Guilherme Favali disse...

show de bola, poesia pura!!
hahahahahh