domingo, 17 de junho de 2012

O Fantasma





"Eu repeti a rotina e percorri meu território mais uma vez, procurando saber até onde meus limites me levariam. Quando me deslocava, tudo ficava tomado de uma névoa densa onde nenhuma luz natural penetrava. Cada experiência marcava sulcos na superfície do meu ectoplasma, como um graveto na lama. 

O tempo me escapava pelos dedos nodosos como vento, fugindo e dobrando esquinas no horizonte vaporoso. Dias seriam anos ou mesmo séculos para minha mente etérea, que já não compreendia sensações terrenas. 

O que me restava era a natureza ao meu redor, onde me refugiei dos meus semelhantes. Hoje e sempre, vago sem objetivo determinado, fluo pelas rochas, pelas árvores, vendo meus pés finos levantarem uma suave névoa úmida entre a vegetação rasteira.

Não mais sentia frio, quando explorava cavernas guardiãs de todas as sombras do mundo ou deitava meu corpo transparente no leito do rio, para observar os peixes me atravessarem. 

Em um carvalho esquecido e frondoso no centro da floresta eu vislumbrei uma esperança de paz.  Entrei e relaxei todas as fibras do meu ser e deixei que a madeira me disciplinasse. Enraizei-me, estabeleci uma base segura, me tornei uma coisa só junto com a árvore. Me permiti dormir pela primeira vez em muitas eras e sonhei com luzes e cores."