sábado, 30 de janeiro de 2010

Onde Vivem os Monstros - O Filme


Publico aqui uma excelente análise do genial filme "Onde Vivem os Monstros" feita por Fábio M. Barreto; do site "Com Limão". Ao final do texto, não deixe de conferir várias cenas mágicas desse novo clássico e o trailer.

Direto de Hollywood - "ONDE VIVEM OS MONSTROS"

Que a bagunça real comece e cada um reencontre sua infância da melhor maneira possível”. Spike Jonze transforma brincadeira de criança em coisa séria, mas com espaço para a imaginação.

Olhar com clareza para nossa índole parece tarefa complicada nos dias de hoje. Tecnologia, pressão e necessidade constante de manter aparências afasta os homens de sua verdadeira essência. Um deles resolveu pensar o contrário, e dirigiu Onde Vivem os Monstros: Spike Jonze. Tomou a obra de Maurice Sendak por empréstimo e mergulhou em seus próprios medos, aspirações e enfrentou, com pavor e coragem, sua natureza monstruosa. Doce ou pavoroso, seguro ou desesperado, incerto ou arrojado. Tudo isso é Max, tudo isso é Jonze, tudo isso é cada um de nós. Facetas dum mesmo indivíduo tomando vida numa terra idílica, mas cruel, e é lá Onde Vivem os Monstros. Um clássico instantâneo!

Maurice Sendak ilustrou belissimamente a história de Max, um garoto malcriado que, depois de ameaçar comer sua mãe, ficou de castigo e sem jantar. Vestido com sua roupa de lobo, o garoto vê o mundo a sua volta se transformar numa floresta pouco amistosa e, partindo em jornada, encontra uma ilha curiosa e habitada por monstros assustadores, desesperados para devorar garotinhos perdidos. Max os sobrepuja e se torna rei. É um conto simples, feito para crianças, facilmente instigadas pela arte de Sendak e as inúmeras possibilidades daquele mundo com pouca fala, mas muita espontaneidade e emoção latente.

A versão de Onde Vivem os Monstros é igualmente simples. Talvez por isso frustre o espectador mais afoito por conta dos belíssimos trailers, ou o marmanjo que cresceu às voltas com o faz de conta em tons pastel de Sendak. A cinematografia de Jonze é pessoal, sempre foi. Corteja o surrealismo com Quero Ser John Malkovich e quebra aparências em Adaptação. Dirige pouco, mas quando o faz carrega forte mensagem e objetividade. O tema constante é a auto-análise. Em vez da posse bizarra do corpo de Malkovich ou as viagens entorpecidas de Meryl Streep, o diretor mostra seu lado ingênuo, mas nem por isso indefeso, ao ampliar o aventureiro Max na película. Nesse mundo, tudo está exposto de forma irrevogável. Seja o conflito familiar, seja a realidade alternativa em meio aos monstros ou, no original, “coisas selvagens”.

Criativo e incompreendido, Max reage extremamente a um ambiente familiar conturbado carente de atenção e sem caminho certo. Pouco disso é dito, mas intensamente mostrado pela brilhante interpretação de Max Records, promessa aos 12 anos de idade. A câmera é subjetiva, valoriza cada criação do personagem, amplia sua percepção e reações. É um rompante emocional de difícil compreensão. Poucos diretores se prestam ao ato de encarnar os anseios infantis com tamanha dedicação, por isso, causa espanto. Não há espaço para explicações, há apenas o fato. Ação e reação. Max é o maior de todos os monstros e não sabe lidar com as pessoas não-monstruosas.

Morde a mãe e inicia sua jornada fundamental. Encontra um lugar sombrio, povoado por criaturas estranhas. Não entende muito bem aquela dinâmica, procura algo familiar ou conceito capaz de promover sua entrada na nova sociedade. Eis que se depara com os Monstros do título. Calados e anônimos no livro, com caráter extremamente definido no filme. A estrutura é clara: cada um deles é um aspecto de Max; ódio, criatividade, medo, compaixão, agressividade, carinho, derrotismo, tudo está ali, em cada um dos monstros. Max precisa perceber isso por conta própria, especialmente em seu relacionamento com Carol (James Gandolfini), que faz dele o novo Rei – os anteriores foram devorados!

Jonze optou por uma mescla de atores com quem trabalhou em seus dois filmes – Chris Cooper (Douglas) e Catherine Keener – e alguns nomes surpreendentes – Paul Dano (Alexander), de Sangue Negro; os veteranos Catherine O’Hara (Judith) e Forest Whitaker (Ira), além de Mark Ruffalo. Lauren Ambrose é o maior destaque, perfeita na maternal e carismática KW. Muitas pessoas, muitos monstros, um objetivo: encontrar a felicidade ou simplesmente ser amado.











3 comentários:

Rurouni André disse...

Um exelente filme, infelizmente aki no DF só tem a versão legendada, enton nem da p levar os filhos, netos... p assissistir.

Recomendadissimo p qm cresceu assissistindo "a flauta magica", Labirinto" e "a historia sem fim".

José Antonio de Oliveira disse...

Poderíamos chamar esse filme de "a viagem dentro de nós mesmos". Carol é nosso ego. As expectativas sobre nós mesmos - rei, os sonhos, o mundo construído. A frustração, o ciúme, o lado destrutivo, mágoa e o arrependimento. KW, a razão, a pondereção a vontade de buscar o novo - os novos amigos -, a vontade de partir. Ira, tão óbvio, bom em abrir buracos e cavar túneis, nossa pulsão vital. Judith, nosso autoritarismo, afinal "eu te devoro". Douglas, nosso sentimento de rejeição, afinal "ninguém me escuta mesmo". Alex, nossos medos. O touro, que nem nome tem, nossa imensa timidez e necessidade de aprovação.
Não é apenas o Max, não é apenas para crianças. Ah! e o Sendak foi um dos produtores do filme, junto com Tom Hanks.
Linda trilha sonora da Karen O.
Se você for ver, não precisa levar nenhuma criança, a não ser a que ainda vive em você. Em cada um de nós.

ZiTeLLi disse...

Nossa assisti esse filme recentemente, achei incrível, um filme pra todas as idades, achei ele de uma sensibilidade surpreendente, parabens pela análise